Desafios

Existem hoje um conjunto de políticas públicas que pretendem alterar o paradigma da paisagem

Cerca de 36% do território nacional está ocupado por áreas florestais, das quais 95% estarão na mão de privados, e em muitas situações desconhece-se quem é o proprietário por ausência de um cadastro. E quando olhamos para o território, constata-se que existe uma grande dicotomia, com o sul do país onde predominam as grandes propriedades, ao passo que no centro e norte domina o minifúndio, em que a propriedade é constituída por parcelas que, em média, não ultrapassam o meio hectare. Para além disso é importante não esquecer que a paisagem fortemente humanizada, tem sofrido fortes alterações nas últimas décadas em resultado da perda de população nas zonas rurais e desertificação da paisagem.

Nas regiões onde impera o minifúndio, a gestão por parte dos proprietários é reduzida, porque, por vezes, a pequena propriedade não dá retorno suficiente para fazer face aos custos com a gestão de combustíveis que se acumulam de ano para ano. Outras causas que contribuem para a ausência de gestão florestal são uma distância geográfica do proprietário, que reside agora numa cidade, o envelhecimento da população rural e a ausência de incentivos públicos adequados à pequena propriedade. Acresce que, fruto da ausência de uma verdadeira política de ordenamento florestal, nas últimas décadas a aposta foi no sentido da produção florestal de uma forma algo desordenada que resultou na instalação de grandes manchas florestais contínuas com espécies de rápido crescimento, preferidas pelos proprietários ainda ativos, sobretudo num contexto em que o ciclo de incêndios se tornou cada vez mais curto. A sua instalação nem sempre seguiu as melhores práticas, , a administração pública não teve capacidade de fiscalização para impor a alguma da compartimentação da paisagem prevista legalmente e sobretudo não houve mecanismos de compensação para os proprietários abdicarem do seu rendimento para instalar folhosas ou uma pastagem para assegurar assim um mosaico agroflorestal. .

É um conjunto de situações que resultam num problema acrescido na prevenção e no combate de fogos rurais em condições climatéricas adversas.

Com o diagnóstico feito, existem hoje um conjunto de políticas públicas que pretendem alterar o paradigma da paisagem, com a promoção de uma utilização multifuncional, onde há diversidade de usos do solo, onde há espaço para produção florestal, para a floresta de conservação com espécies autóctones, agricultura e muitos outras atividades que compartimentam e tornam a floresta mais resiliente aos incêndios. Mas para que tal seja uma realidade é necessária uma intervenção alavancada por investimento público, onde não sejam esquecidos o minifúndio e a remuneração dos serviços de ecossistema.