Principais espécies e sua distribuição

As florestas ocupam 35,4% do país e cobrem mais de 3 milhões de hectares

Pinheiro-bravo

Características

De nome científico Pinus pinaster Aiton, esta é uma espécie resinosa, autóctone em Portugal Continental. Faz parte da família das Pinaceae, a qual inclui outros pinheiros como o pinheiro-manso (Pinus pinea), o pinheiro-larício (P. nigra), o pinheiro-radiata (P. radiata), o pinheiro-silvestre ou de casquinha (P. sylvestris) e o pinheiro-de-alepo (P. halepensis), todos eles também existentes em Portugal.

Esta é uma espécie resistente à seca, ao frio e às geadas heliófila, sendo pioneira devido ao facto de conseguir crescer em condições desfavoráveis, com a exceção do ensombramento – é uma espécie heliófila. Apesar de encontrar melhores condições para se desenvolver em zonas de temperatura média anual entre 11º a 15º C. e de precipitação média anual entre 550-1200 mm (com pelo menos 100 mm no verão), consegue desenvolver-se em quase todo o território nacional, até aos cerca de 700 a 900 metros de altitude.

O pinheiro-bravo é tolerante a solos pobres e degradados, embora prefira os siliciosos, permeáveis, soltos e arenosos, com profundidades entre os 30 e os 60 cm, onde as raízes se podem desenvolver. Não tolera, no entanto, níveis muito elevados de salinidade ou calcário.

As árvores adultas, que podem atingir até 40 metros de altura, aos 60-70 anos, podem alcançar 20-25 m de altura e 55-60 cm de diâmetro. A casca (carrasca) é muito espessa e fendilhada, de cor castanha-avermelhada, tornando-se mais escura à medida que as árvores envelhecem. As agulhas são longas e rígidas, agrupadas duas a duas, medindo entre 10 a 20 cm e duram 2 a 3 anos, dependendo das condições locais.

As copas das árvores jovens são piramidais, mas vão arredondando com a idade. As árvores velhas apresentam copas largas e rasas no topo. 

A árvore começa a florir por volta dos 7-8 anos. A floração ocorre de março a maio e as inflorescências masculinas e os cones femininos estão presentes na mesma árvore, embora as primeiras localizadas nas partes intermédia e baixa da copa e os cones femininos na parte superior da mesma. 

Com uma longevidade que não ultrapassa em muito os 200 anos, esta espécie representa cerca de 22% da floresta em Portugal continental e está também presente nos arquipélagos dos Açores e Madeira.

Distribuição

Na Península Ibérica reconhecem-se duas subespécies: a atlantica de distribuição litoral atlântica e a escarena de distribuição mediterrânica, maioritariamente continental. Esta primeira subespécie, também conhecida como pinheiro-marítimo, é uma das mais representadas nos habitats de dunas costeiras – classificado entre os habitats prioritários de conservação em Portugal (Diretiva Habitats e Rede Natura 2000 – código 2270) – pela riqueza da vegetação arbustiva espontânea de urzes, tojos, carrascos, zimbros e camarinhas, que tem vindo a perder-se.

A sua capacidade de adaptação a vários cenários, em conjunto com a elevada produção de sementes, contribuiu para que esta tenha sido a espécie, por excelência, escolhida para a arborização das dunas litorais e das áreas de baldio, integrando as mais antigas iniciativas de florestação planeadas em Portugal.

Atualmente podemos encontrar o pinheiro-bravo no nosso país ao longo da faixa litoral desde as bacias do Tejo e Sado até o rio Minho e no interior das regiões Norte e Centro (a norte, de preferência em encostas de exposição sudoeste, onde a influência marítima ainda se faz sentir), onde o encontramos misturado com pinheiro-manso, azinheira, sobreiro e outros carvalhos. 

A área de pinheiro-bravo tem-se vindo a reduzir sobretudo devido aos incêndios, que, entre outros fatores, decorrem do abandono e despovoamento de áreas rurais, da falta de incentivos públicos adequados à pequena propriedade e da dificuldade de organizar os pequenos proprietários para uma gestão conjunta. Outros fatores, com menor relevância, que contribuíram para a perda da sua área foram a conversão de floresta em espaços urbanos, , a substituição por outras espécies e as pragas e doenças, não tanto pela mortalidade causada, mas pelo “pânico” que gerou nos proprietários. . Em 2015, ocupava cerca de 714 mil hectares em Portugal Continental, valor que certamente será inferior nos dias de hoje.

Importância do pinheiro-bravo

Historicamente, esta é uma espécie que teve uma enorme importância na contenção das areias litorais que, pela força dos ventos, invadiam campos de cultivo e se acumulavam na foz dos rios, o que levou à criação do pinhal de Leiria, uma das primeiras iniciativas a promover o aumento da espécie em Portugal. Foi mandado plantar pelo rei D. Afonso III (1210-1279), e a sua área foi ampliada por ordem de D. Dinis, entre 1279 e 1325, com sementeiras de pinheiro-bravo ao longo da costa.

No período alto dos Descobrimentos (nos séculos XV e XVI), a madeira dos pinheiros era usada nas embarcações – assim como a sua resina na calafetagem -, procurada como matéria-prima e fonte de energia para vários ofícios e para o lume e aquecimento das famílias. 

Durante estas décadas, o pinheiro-bravo manteve grande importância na vida quotidiana da população rural. À data era comum cortar varas para lenha – cozinhar e aquecer as casas durante o Inverno – e as pinhas e agulhas (caruma) eram usadas para atear o lume e para fazer a cama dos animais. Esta recuperação de material lenhoso garantia a limpeza dos matos. A resina era também uma fonte extra e importante de rendimento anual.

Hoje, a madeira fornecida pelo pinheiro-bravo continua a ser importante para a economia nacional. Desde a sua utilização na indústria – construção civil, marcenaria, mobiliário, painéis de madeira, embalagens, entre outros – à produção de papel de embalagem, em que se mantém como única fonte de fibra longa para o fabrico da pasta kraft não branqueada.

Não poderá ser esquecido o valor indireto resultante da complementaridade com outras atividades, como a produção de resina, cogumelos, a apicultura, a pastorícia, a caça ou serviços como o armazenamento de carbono, em que é a maior reserva da nossa floresta, a biodiversidade, a proteção do solo e da água o turismo de natureza e a proteção de dunas.

Fontes: 

https://florestas.pt/conhecer/pinheiro-bravo-a-conifera-mais-abundante-em-portugal/

https://www.centropinus.org/files/upload/edicoes_tecnicas/silvicultura-centro-pinus-digital.pdf


Eucalipto

Descrição

Eucalipto é o nome comum dado a muitas espécies dos géneros Eucalyptus, Corymbia e Angophora. A boa adaptação ao solo e clima nacional, a rapidez de crescimento e as propriedades da madeira contribuíram para que uma se destacasse em Portugal – o Eucalyptus globulus.

O Eucalyptus globulus pertencente à família Myrtaceae, é uma árvore de folha persistente, de crescimento rápido, que pode alcançar 60 m de altura.

Possui uma copa ampla, de forma irregular. O tronco é liso, direito mas com tendência a uma torção em espiral, com uma casca que se desprende em placas nas partes mais altas criando uma imagem manchada de verde, cinza e castanho.

As folhas são estreitas, lanceoladas, coriáceas, verde-escuras, com cerca de 10 a 30 cm de comprimento. As folhas das árvores jovens e rebentos da base são, por sua vez, mais largas e tenras, cobertas por uma resina azul-acinzentada.

As flores amarelas surgem entre junho e outubro, solitárias na axila dos ramos ou em grupos de 3 flores. Têm numerosos estames, produzindo um néctar muito apreciado pelas abelhas.

O fruto é uma cápsula lenhosa que atinge a maturação em outubro. De forma globosa sensivelmente tetragonal, pode ter 3 a 6 valvas dispostas sob um disco onde se encontram as sementes.

O Eucalipto é natural do sudeste da Austrália e Tasmânia, estando disperso pela maioria dos lugares de clima temperado. 

Tolera a secura, mas é pouco tolerante às baixas temperaturas invernais, geadas, nevoeiros intensos ou secas prolongadas.

Tem preferência por solos argilosos, siliciosos e húmidos, podendo mesmo ser pantanosos.

Distribuição

Pensa-se que o eucalipto (possivelmente da espécie E. obliqua) terá sido introduzido pela primeira vez em Portugal por volta de 1829 (em Vila Nova de Gaia), embora não se saiba ao certo quando chegou o Eucalyptus globulus, que é hoje o mais comum no país. Certo é que no início da segunda metade do século XIX, a espécie E. globulus começa a ser plantada como fonte de madeira para combustível e construção. As suas características, como os troncos longos e aprumados, o crescimento rápido e a capacidade para rebentar de novo depois do corte – rebentamento de toiça, tornaram esta espécie de eucalipto muito atrativa entre as explorações agrícolas da altura.

Em Portugal marca presença em todas as regiões, com maior incidência no litoral oeste, associado a povoamentos florestais, ocupando, no último Inventário Florestal Nacional uma área de 844 000 hectares, que,  hoje, se estima que poderá atingir 1 milhão de hectares. 

Importância do eucalipto

Além de algumas funções ornamentais, a espécie foi originalmente introduzida para constituir povoamentos florestais com destino às indústrias de celulose para produção de papel. As folhas têm inúmeras propriedades medicinais, nomeadamente balsâmicas e antisséticas, sendo usadas para farmacêutica, perfumaria e confeitaria. As flores são utilizadas pelas abelhas para produção de mel.


Sobreiro

Descrição

O sobreiro é uma espécie nativa, perene da família das Fagaceae, a que também pertencem o castanheiro e os carvalhos. É uma árvore de médio porte, que pode atingir 20 m de altura, de copa ampla, irregular e densa. A maior diferença em relação aos outros carvalhos é a presença de uma casca acinzentada, espessa e fendida – a cortiça – a envolver o tronco e os ramos.

As folhas são persistentes, simples, coriáceas e ovadas. A página superior das folhas é verde-escura, lustrosa e desprovida de pelos e a página inferior é esbranquiçada pela densa presença de pelos. A margem é inteira, ou por vezes ligeiramente dentada e espinhosa.

As flores verde-amareladas e pequenas surgem entre fevereiro e maio e por vezes no outono, em amentilhos femininos e masculinos. Os amentilhos masculinos são finos e muito peludos, e encontram-se em grupos de 5 a 6, na extremidade dos ramos. As flores femininas são pouco visíveis, surgem geralmente isoladas na parte média dos ramos.

O fruto é uma glande, usualmente designada como bolota. O fruto é oval, mais largo e peludo no ápice, de cor verde, que tende a evoluir para castanho-avermelhado quando atinge a maturação, no outono. É composto por uma cúpula em forma de dedal coberta de escamas imbricadas, ou seja, de ponta curva. Os primeiros frutos surgem na árvore a partir dos 15 a 20 anos de idade.

O sobreiro é uma espécie bem adaptada ao clima mediterrânico, caracterizado por períodos de seca estival e invernos amenos – com temperaturas entre os -5ºC e 40ºC -, com uma precipitação mínima anual de 400 mm e máxima de 1700 mm, e pode ter um solo com um pH entre 4,8 e 7,0. O sobreiro cresce simultaneamente em dois sentidos: vertical e horizontal, resultando uma árvore adulta muito robusta, que pode atingir entre 10 e 20m de altura, apresentando muitos polimorfismos, que se distinguem por certas particularidades das cúpulas, das folhas e dos frutos. 

A cortiça é constituída essencialmente por suberina, mas possui também celulose, taninos, lenhina, ceras e outros polissacáridos, que lhe conferem propriedades químicas, físicas e mecânicas únicas. Por este motivo, e por ser um tecido com capacidade regenerativa, a cortiça tem extrema importância económica, e é utilizada em diversos sectores da indústria, em múltiplas aplicações.

Distribuição

O sobreiro é nativo da Região Mediterrânica ocidental, ocorrendo de forma espontânea em Portugal, Espanha, França, Itália, Argélia, Tunísia e Marrocos. Em Portugal é frequente um pouco por todo o país, sendo mais predominante na Terra-Quente de Trás-os-Montes, na parte oeste do Alentejo, no Algarve e bacia do Tejo.

É uma árvore de luz plena, prefere solos soltos, leves e permeáveis, clima ameno e níveis médios de humidade atmosférica. Adapta-se, no entanto, a uma grande variedade de condições ecológicas, tolerando longos períodos de seca estival e de pluviosidade baixa. Suporta mal as geadas e os solos calcários.

O sobreiro pode encontra-se em povoamentos onde é dominante – montados de sobro ou sobreirais ou em bosques e matas, associado a outras espécies, como a azinheira e o carvalho cerquinho.

Importância do sobreiro

Cerca de 23% da área florestal portuguesa é constituída por sobreiros, que suportam uma das indústrias florestais do país, em que se destaca a produção de rolhas, além de darem um contributo fundamental contra a desertificação social e de contribuírem sem paralelo para a preservação da biodiversidade associada ao montado de sobro. 

 Proteção à espécie

A importância do sobreiro em Portugal é reconhecida desde o século XIII, altura em que surgiram as primeiras leis de proteção da espécie. No final de 2011, o sobreiro foi consagrado, por unanimidade da Assembleia da República, a Árvore Nacional de Portugal. Esta classificação está diretamente relacionada com a grande importância económica, social e ambiental que representa para o país. 

O Decreto-Lei n.º  169/2001, de 25 de Maio, alterado pelo Decreto-Lei n.º 155/2004, de 30 de Junho, estabelece as medidas de proteção desta espécie e da azinheira,  proíbe o abate não autorizado de árvores e regulamenta a poda. Só podem ser cortadas se estiverem mortas ou doentes e, mesmo assim, só com autorização do ICNF – Instituto da conservação da Natureza e das Florestas. A extração de cortiça também se rege por um conjunto de normas, estabelecidas na mesma regulamentação.


Azinheira

Características

A azinheira (Quercus rotundifolia), da família Fagaceae, é uma espécie perenifólia – de folha persistente -, cuja renovação das folhas ocorre de dois em dois ou de três em três anos, sem que a árvore fique despida. Apresenta um porte médio, podendo atingir entre 8 a 15 metros e, raramente, 20 a 25 metros de altura. Possui uma copa geralmente ampla e arredondada que pode atingir 25 metros de diâmetro, um tronco curto e tortuoso e casca acinzentada.

É uma espécie de crescimento lento e de elevada longevidade, podendo ultrapassar os 1000 anos.

As folhas são alternas, simples, elípticas, espessas, coriáceas, com margem lisa ou espinhosa, cobertas por um feltro acinzentado na página inferior.

A floração ocorre entre março e abril. Como é uma espécie monóica, as flores masculinas e femininas crescem na mesma árvore. As flores masculinas são amareladas, alaranjadas e por fim tornam-se pardas. Aparecem em grande quantidade, agrupadas em inflorescências – amentilhos suspensos – na extremidade dos ramos do ano. As flores femininas verde-acinzentadas e peludas, desenvolvem-se em menor número nos rebentos do ano, dando lugar a pequenas bolotas no verão.

O fruto – glande ou bolota, tem uma cúpula em forma de dedal coberta por pequenas escamas quase planas que cobrem quase metade do fruto.

As bolotas amadurecem e caem no outono, entre outubro e dezembro, e perdem rapidamente a capacidade de germinar, não sendo fácil a sua conservação por muito tempo. Frutifica geralmente a partir dos 8-10 anos, mas só a partir dos 15 a 20 anos é que passa a uma frutificação regular e mais abundante.

É uma espécie rústica e resistente, mas é sensível ao frio, ainda que tolere temperaturas mínimas até aos -3ºc.

É uma árvore heliófila, ou seja, de plena luz e intolerante ao ensombramento, que possui uma grande plasticidade ecológica. Também é classificada como uma espécie xerófila, estando adaptada a períodos de secura, mais ou menos prolongados, conseguindo viver com pequenas quantidades de águas.

É indiferente às condições edáficas, exceto em solos encharcados (com má drenagem), ou muito arenosos. Pode desenvolver-se em solos pobres, rochosos, pedregosos e esqueléticos, com pouca ou nenhuma humidade e é tolerante a qualquer tipo de pH.

Distribuição

É a árvore mais comum no Sul de Portugal. Originária do sul da Europa, é uma árvore espontânea em quase toda a Bacia do Mediterrâneo. Localiza-se em bosques e matagais perenifólios, de clima mediterrânico, frequentemente como dominante (azinhais). 

Em Portugal é uma espécie comum em todo o território, que suporta sítios secos e todo o tipo de solo, sobretudo em zonas com influência continental e mediterrânica, sendo mais predominante no interior do país. Embora mais frequente nas regiões do interior e no sul, também possa encontrar-se na faixa do litoral, exceto em zonas de climas temperados do norte e centro litoral.

No sul, onde é mais predominante, ocupa extensos povoamentos, formando os “montados de azinho”, muitas vezes em sistemas agro-florestais, como em pastagens ou em campos de cultivo agrícola, como as culturas de cereais, ou em povoamentos mistos com o sobreiro.

Importância da azinheira

Esta é uma árvore com um importante valor ornamental e cénico. Para além disso, os frutos da azinheira são considerados os de melhor qualidade entre as várias espécies do género Quercus, constituindo uma excelente fonte de alimento para os animais durante o outono e o inverno, sendo tradicionalmente utilizadas na alimentação dos porcos de montanheira. As bolotas também são usadas na alimentação humana. Possuem um elevado valor nutricional e são ricas em fibras, proteínas e em compostos antioxidantes, e pode uma excelente alternativa nutricional para pessoas intolerantes ao glúten. Em algumas regiões, as bolotas são assadas, como as castanhas, ou misturadas com outros cereais para fazer farinha para pão.

É uma madeira dura e difícil de trabalhar, mas é usada na construção, para o fabrico de pavimentos – parquet, pois além da madeira apresentar “desenhos” que criam um belo efeito, também é resistente ao pisoteio. A madeira de azinheira possui um alto valor calorífico, sendo muito apreciada para carvão e lenha, o que poderá colocar problemas ao nível da sua conservação. 

Tal como já referido na caracterização do sobreiro, a azinheira é uma espécie protegida em Portugal. A sua proteção justifica-se largamente pela sua importância ambiental e económica, já reconhecida na Lei de Bases da Política Florestal publicada em 1996 (Lei n.º 33/96, de 17 de Agosto).